As consequências, os prejuízos e as alternativas viáveis para o problema do curtailment no Brasil foram discutidas durante a 35ª edição do Energia em Pauta. Na ocasião do programa, realizado na noite desta quarta-feira, 25, especialistas avaliaram os reflexos da medida, que consiste na redução forçada da geração de energia, especialmente em usinas solares e eólicas, devido ao excesso de oferta em relação à capacidade de consumo ou transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Promovido pelo Sindienergia-CE, em parceria com a FIEC e o Sebrae, e com o patrocínio do Banco do Nordeste, o programa foi realizado na sede da Federação das Indústrias e contou com a participação de grandes nomes do empresariado e especialistas do setor. A moderação ficou por conta de Luiz Eduardo Moraes, diretor de Geração Centralizada do Sindienergia-CE e diretor executivo na J.Macêdo CAP.
“Não vamos nos esquecer que os cortes serão mais intensos no segundo semestre, devido à safra dos ventos, sendo a solar a fonte mais impactada. Temos que repensar a forma como planejamos, operamos e regulamos o nosso SIN, promovendo um debate técnico, aberto e construtivo que nos ajude encontrar caminhos e soluções para minimizar esse grande problema”, iniciou.
Ele pontuou ainda que, em 2024, os prejuízos para as geradoras de energia foi superior a R$ 1,6 bilhão, com mais de 14,6 terawatts-hora (TWh) de energia não gerada, tendo a região Nordeste concentrado 75% das interrupções, o que equivale a cerca de 330 mil horas de geração suspensa.
Gerente de Pós-operação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), David Gonçalves afirmou que o curtailment teve sua importância acentuada após a “perturbação” do último dia 15 de agosto de 2023, quando uma falha em equipamentos de parques eólicos e solares causou interrupções no fornecimento de energia elétrica em diversos estados.
“A ONS tem adotado ações de planejamento elétrico, buscando a implantação de sistemas especiais de proteção, uma solução de engenharia que nos permite explorar o sistema de transmissão com um maior grau de confiança e controle”, disse.
Por sua vez, o diretor de Desenvolvimento e Construção da Qair Brasil, Luiz Santos, elogiou as medidas mitigadoras, mas enfatizou a apreensão do setor. “Antes do evento de 2023, nós tínhamos um curtailment de 0,5% a 2% e hoje estamos na faixa de 10% a 40%, e isso tem afetado muito a vida dos projetos. E parece que vão aumentar. Isso, pros empreendimentos que já estão em operação, é muito preocupante”, ressaltou.
Já André Felber, cofundador do ePowerBay, parabenizou a disponibilidade de dados pela ONS. “Um bom caminho para solucionar problemas é ter acesso às informações, e isso a ONS sempre teve com muita clareza. E quando a gente começa a ver esses dados crescendo muito e afetando o bolso, a gente fica mais crítico com as informações. Alguns pontos poderiam ser mais transparentes. Mas, no contexto geral, são bem disponibilizados”, afirmou, ao apresentar um balanço detalhado sobre a capacidade instalada, intercâmbio entre sistemas e cortes na geração.
Por fim, o gerente de Desenvolvimento Sustentável da FIEC, Joaquim Rolim, fez uma análise sob a ótica do impacto dos cortes na atração de investimentos para o Nordeste. “Neste momento, a preocupação é grande. As energias renováveis representam mais de R$ 200 bi em investimentos acumulados no Nordeste. E os investidores que apostaram na região não conseguiriam imaginar esse custo relacionado ao curtailment, que impacta diretamente na competitividade”, lamentou.
Todo o programa foi transmitido por meio do canal do Sindienergia no YouTube (@sindienergiace). A discussão, na íntegra, está disponível na plataforma pelo link https://www.youtube.com/live/U8THPzGvoR8